segunda-feira, 26 de agosto de 2013

É à tarde que se tritura o lixo...

...ou de como tudo que a humanidade produz de pior vai parar nas tardes da TV


Ana Vargas

Primeiro é preciso pensar nos resíduos gerados por todos nós, humanos, enquanto estamos aqui no planeta vivendo nossas vidas. Pense em todo o lixo que é produzido para que possamos nos manter vivos – roupas, alimentos, calçados, remédios e cosméticos, papeis... – e razoavelmente saudáveis. Depois, pense em onde tudo isso costuma parar: nos aterros periféricos, nas ruas, córregos e rios, nas margens das estradas. 

A gente sempre vê lixos variados espalhados por quase todos os cantos e talvez poucos se importem em saber que tais lixos poderiam ter outra destinação. De um modo digamos, mais humanista e simples e natural, podemos dizer que se cada um cuidasse do seu lixo, já seria ótimo e pronto.

Mas onde estou querendo chegar?  Não é na importância da política de resíduos sólidos recentemente instituída (mas não implementada) pelo governo federal e que, aliás, geraria empregos e seria ótima para todos ( é preciso lembrar que há muita gente trabalhando com os variados processos de manejo do lixo e essas pessoas – não falo só dos garis, essa classe tão esquecida – merecem todo o respeito e consideração).

Vou por este caminho para falar da programação da tevê  durante as tardes, pois é bem ali, que todo o lixo – como direi? Da falta de respeito para com o telespectador? Da falta de cuidado ao produzir tais programas? – vai parar.

É bem ali que todo esse  lixo vai sendo triturado de forma que renda bons resíduos para todos os programas de todas as emissoras. É preciso aproveitá-lo, e aproveitá-lo bem; fazê-lo render e render...





A visão não é nada agradável e é nisso que se parece com a programação da tevê.


Traição rentável



Tudo começou porque assisti (sim, fiz isso para escrever isso) a um programa numa certa rede de TV no qual se falava da traição feita pelo marido de certa moça que dançava em um grupo de axé. A apresentadora do tal programa, ficou durante o tempo todo do dito cujo, falando somente isso e inclusive, chamou jornalistas com caras sérias para que juntos, pudessem discutir a...traição. Parece que tudo aconteceu numa casa – a ‘roça’ ou fazenda... sei lá; isso eu não assisto! – onde um bando de gente se engalfinha e fica confinada como naquela outra casa que chamam BBB (a pioneira desse tipo de lixo televisivo).

Pois então: o marido dessa moça estava na roça, digo, na fazenda, e a traiu com outra que por acaso, também estava lá (isso não é lindo?). E, então, dá-lhe imagens das moças – tanto da traída quanto da que traiu – em trajes mínimos e em poses de revista masculina; dá-lhe longos debates muito profundos sobre o que leva as pessoas a agirem assim, julgamentos rasos vindos de todos os lados. Em seguida, uma paradinha para o ‘merchan’ -  porque lixo merece ser tratado com apreço, como disse no início - e depois, alguns sorrisos e caras e bocas, e a volta ao sofá – já com expressões compungidas - no qual todos voltam, enfim, a falar da traição. 

Ali já era possível ouvir o triturar cadenciado do lixo.


Rentável traição



No outro dia, só se falava nisso de manhãzinha em outro programa da tal emissora – veja: para escrever eu precisava assistir aos desdobramentos do ‘caso’ – no qual vários apresentadores continuavam se debatendo em torno da traição. Gente muito concentrada em entender os meandros desse comportamento humano, aliás, não faria mal a presença de um psicólogo (há muitos dispostos a isso agora, digo, a explicar tais coisas numa linguagem televisiva), mas não chamaram nenhum, a coisa ficou só no bate papo mesmo... bem leve e despretensioso, afinal, é preciso começar a manhã assim, não é? 
Bom, isso é o que dizem especialistas  em qualidade de vida.

Enfim, o que se percebe – não desqualificando as pessoas que trabalham produzindo tais programas;  todo trabalho é digno afinal ou pelo menos, deveria ser - é que há na tevê, toda uma estrutura que funciona muito bem em torno do pior que o ser humano produz.

Afinal, a matéria prima  é inesgotável e gratuita: primeiro, não é preciso pagar para que pessoas em busca da fama se deixem confinar e se deixem filmar e ajam de forma (sem julgamentos, apenas uma constatação) comum a qualquer criatura humana. Traição, luxúria, preguiça, os pecados todos, os vemos diariamente por aí, os cometemos também porque somos todos da mesma raça. Mas isso não deixa de ser algo ruim – e cada um sabe de si e ninguém deveria ficar por aí julgando ninguém, mas em se tratando de pessoas que fazem isso na tevê, é outra história - e  aí está a fonte desses programas.

O barulho da máquina de triturar


É ali que produtores e pauteiros vão buscar suas matérias. Aqui já estou pulando de programa e falando de outro que se propõe a levar ao palco, famílias em pé de guerra. Tudo é discutido abertamente e quanto mais baixaria melhor. 

A apresentadora do dito cujo está lá apenas para perfilar as pessoas no palco, para cutucá-las e fazê-las dizerem impropérios umas às outras. Seria cômico e bizarro se não fosse até, assustador, ver tanta roupa suja sendo (literalmente) estraçalhada e não lavada (porque o que se quer é refinar o ruim, lembrem-se: o lixo deve ser cuidadosamente triturado) ali, ao vivo. 

No final de tudo – ufa! – uma psicóloga (eles tem uma, meno male) aparece para ser a voz da razão e, embora agindo mesmo como pessoa disposta a iluminar o caos – ninguém parece disposto a ouvi-la e tudo acaba como começou: aos trancos.

Como eu também sou humana e não estou querendo julgar ninguém _ isso é importante -  devo dizer que assistir a esses programas é estar em um circo de horrores levemente engraçado às vezes e assustadoramente tenebroso outras vezes. 

É uma catarse sim: pessoas humildes e simplórias que sequer entendem o que a psicóloga diz, pessoas que se expõem assim diante de câmeras afoitas para captar suas expressões mais íntimas de revolta, dor ou alegria...


 O final



E eis que o processo chega ao fim: o lixo das emoções humanas mais (talvez) deploráveis ou comoventes vai se esgotando. Lembremos: aquilo ali não é uma peça de teatro na qual atores se empenham em reproduzir as tragédias ou alegrias humanas intensamente para depois se recomporem, muito lúcidos, sendo capazes de se separar (deve ser dificílimo) do personagem e pronto. Aquilo ali é a vida real – até certo ponto – dizem os que produzem tais programas, que é apenas a vida real transposta para a tela da tevê. 

A vida real é feita sim, de traições, muito sexo desenfreado, abusos variados, criancinhas abandonadas, mulheres raivosas e tudo mais que formos capazes de imaginar, mas também de pessoas que se respeitam e respeitam os outros. E respeito, claro, é algo inexistente em tais programas.


Bom, mas eu fico pensando é em como toda a grandiosa orgia (para mim é isso) de emoções descontroladas foi parar na grade da programação da tevê aberta de um jeito, digamos, eficiente. Ninguém pode dizer que não é, porque se não fosse, já teriam ido atrás de outras coisas. E, penso ainda, em como essa orgia, se espalha como fogo em capim seco para outros programas tão 'nobres' quanto, para a web e aí, é algo infindável... Como sabemos o que é ruim tem mais chances de ser divulgado.


Assim, enquanto o governo luta para implantar uma política de resíduos sólidos que transforme nosso lixo em coisas mais nobres; a tevê aberta faz o caminho inverso e luta sim, para que os resíduos emocionais mais dolorosos – ser traído, sofrer abuso, descobrir na tevê que a mãe é homossexual ou que o pai ficou com a melhor amiga e etc. – se transformem em audiência e rendam frutos mercadológicos e atraiam anunciantes.


É assim que a roda gira, sabemos  que é assim, nada de errado nisso, mas bem que o povo que produz tudo isso, poderia (quem sabe?) pensar em debater tais coisas de maneiras mais produtivas e esclarecedoras.



Por enquanto o que se vê é ouve e quase dá para sentir o cheiro é o triturar desse lixo todo de forma muito eficaz, nas tardes da nossa – já tão criticada – TV.


Geraes de Minas


RETIRANTE

  

                                                             Paulo R. Santos*




De passagem estamos todos, talvez, como as nuvens...


Visto de longe parecia apenas um pontinho que se mexia no fim visível da estrada, abaixo da linha do horizonte. Aos poucos foi se aproximando e deu para ver que era um cavalo com seu cavaleiro, puxado pelas rédeas. Ambos sujos, empoeirados, pele tostada pelo sol de novembro, botinas gastas quase tanto quanto os cascos da velha montaria, uma égua que já deveria ter cruzado muitas estradas.

Parou perto da venda sob o olhar curioso daquela gente que só vez por outra tinha novidade para saber ou contar. Cumprimentou o vendeiro pondo o chapéu no peito; perguntou se havia um lugar onde pudesse tirar o pó da estrada e dar água para o animal. O ribeirão mais abaixo servia bem, pois servia todo o lugarejo perdido nos sertões das Gerais. Continuou puxando a égua pelas rédeas e lá se foram os dois, o homem adiante e a égua em passo cadenciado atrás.

Sob os olhares das janelas abertas, mais que os olhos dos moradores, o homem lavou-se como pode,  deu água para a companheira de jornada, tirou o arreio e lavou o lombo salgado do animal para evitar 'pisaduras', pegou um cigarro de palha e fumou o tempo suficiente para que ambos secassem com a brisa que soprava.

Recolocou o arreio, encheu a cabaça com água fresca, aprumou-se e voltou para a porta da venda, onde o vendeiro foi logo perguntando:

- Seu moço, se permite perguntar, de onde vem e pra onde vai?

- Venho de onde o sol nasce e vou pra qualquer lugar onde o sol se põe, respondeu.

O vendeiro não se surpreendeu com a resposta. Já vira e ouvira um pouco de tudo na vida e os cabelos brancos ajudavam a não questionar razões alheias. Perguntou ainda:

- Precisa de alguma coisa?

- De uma rapadura e um quilo de farinha de mandioca, minha jacuba tá no fim. Um pedaço de fumo de rolo também. Se der, levo também carne seca. Mas tenho pouco dinheiro por isso vamos ter que negociar.

- Entra que damos um jeito, seu moço! Daqui o senhor não saí sem sua satisfação.

Poucos minutos depois, saía o retirante sem rumo com seu pedido pago a preço justo e combinado entre as partes. Pegou as rédeas da égua de cascos gastos e seguiu pela outra ponta da estrada, sem montar. Aos poucos foi desaparecendo sob os olhares curiosos dos moradores do lugarejo. Seria um assunto e tanto para os próximos dias. O homem que veio sabe-se lá de onde e se foi para algum lugar na vida. É assim mesmo, estamos todos de passagem!

* Paulo R. Santos é sociólogo e editor do blog Animal Sapiens  - http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/
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Amigos, voltei a atualizar o banco de imagens de Minas no FlickR . Inseri várias imagens da cidade de Morro do Ferro (onde meu pai nasceu) fotografadas por Saulo Guglielmelli. 

Veja uma delas:




São imagens deslumbrantes! Dê uma passada lá, divulgue para os amigos, e caso tenha fotos de Minas que queira divulgar, não deixe de enviar; contribua para que a gente faça um painel das Geraes que não estão (que eu saiba) em roteiros turísticos (felizmente).

O link é 

http://www.flickr.com/photos/geraesdeminas/

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O mundo muda... pra continuar igual 

Ana Vargas



Tudo começou assim: ontem algumas pessoas foram às ruas em São Paulo e no Rio (contra seus respectivos governadores) houve quebra-quebra, prisões e políticos dando declarações de que tudo está sob controle.

Tudo sob controle deveria significar que o Estado continua trabalhando para manter a ordem das coisas dentro de uma estrutura organizada e até certo ponto, funcionando de forma ‘boa’ para todos, mas bem sabemos que não é bem assim...

Que ‘tudo’ pareça estar fervilhando e a ponto de explodir, não só por aqui, mas em todo planeta, é uma situação que vem num crescendo desde talvez (?) a tal primavera árabe(não  sou historiadora nem socióloga, essa é uma constatação leiga*). 


Além do mais, depois do advento das redes sociais a gente sabe que todos os anseios são compartilhados de forma mais rápida. Um desejo de mudança – de uma estudante de primeiro grau que crie um blog ou de uma ONG que lute pelos direitos dos animais  – faz com que mais pessoas se agreguem em torno do mesmo anseio e, no final, o desejo de um se torna o grito de muitos.


Pois, e diante de tantas revoltas ou de tantas novas formas de protesto – tem gente que sabe contra o quê ou contra quem deve se revoltar, tem gente que nem sabe por que está à frente de protestos (embora receba toda atenção da imprensa**), e a impressão final é de que os inconformados (jovens ou não) estão mesmo dispostos a mostrar toda a sua raiva contra tudo o que aí está: e então, sobra para todos, inclusive para a ‘dona’ grande imprensa (que merece as críticas que recebe, com certeza).


Bom, mas estou falando de protestos (um tema cansativo, embora a coisa não tenha parado) para chegar ao assunto principal: a ânsia por transformações no modo de gestão (digamos assim) das estruturas do mundo, é que tem levado as pessoas às ruas, certo?

 

Cachorro ‘bobo’











Mas quando a gente olha para trás (infelizmente) vê o quanto esse nosso velho mundo parece um cachorro que tenta abocanhar o próprio rabo, e isso, desde as civilizações mais remotas. Desde o tempo dos faraós e imperadores e reis e de todos os soberanos que detiveram o poder e dos quais, nada resta a não ser pó. 


Quanta desigualdade social desde sempre: se ontem havia camponeses e artesãos; hoje há os professores das redes públicas (e ‘privadas’), garis, jornalistas (desempregados ou em subempregos como eu): todas estas profissões que estão na base da pirâmide desde sempre.


E, enquanto vemos que os poderosos sempre olharão para o povo*** (bem) de cima para baixo e nunca farão nada a não ser que esse povo demonstre insatisfação ou raiva...



É nessa hora que ocorrem as erupções sociais (como feridas que nunca fecham porque, na verdade, a ‘cura’ é sempre superficial), guerras, protestos, marchas...E é assim que o mundo ainda parece ser o cão que tenta abocanhar o rabo.



Bebê fofinho




Tadinho: ele é só um bebê fofo que chegou ao mundo há (acho) duas semanas e dizem que sua foto vale ‘só’ 10,7 milhões de euros. Seu nascimento foi tão aguardado que os ‘media’ (como se diz em Portugal) passaram dias e noites postados de frente ao hospital. A gravidez da mãe também foi tão ‘tão’ que provocou até o suicídio de uma moça num imbróglio que envolveu repórteres australianos****. 


Quanto sensacionalismo! Há 30 anos também foi assim quando a avó desse bebê se casou e foi assim também quando ela morreu.
Tudo o que a monarquia faz é notícia e vende, mas isso você e eu estamos fartos de saber. 


A imprensa precisa disso para vender jornais e para que a publicidade lucre e anuncie nos... jornais (essa é a lógica e até aí nada de mais).


Mas no que pensei foi no quanto o nascimento do bebê ‘real’ também faz com que se confirmem e renasçam com vigor (embora isso nunca tenha ‘morrido’) a certeza de que tudo o que ‘azeita’ a máquina emperrada da civilização (desigualdade social, luta de classes, preconceitos, poder de uns e miséria de tantos) apesar da ânsia por transformações... parece ser algo que nunca terá fim.



Eu não sei quanto a vocês, mas acho extremamente ridículo que ainda existam monarquias  e mais ridículo ainda, que existam pessoas que se preocupem de modo obsessivo com tudo o que acontece lá naqueles palácios ingleses (ou espanhóis ou suecos ou japoneses)



Pessoas que endeusam reis e que acham que um bebê (um ser humano como qualquer outro) vale mais porque é um monarca (que coisa caquética e isso em pleno século XXI !).

Tudo na mesma como a lesma¹




Pois é, o fato é que mais um bebê real nasceu e daqui há sei lá quantos anos, ele estará (talvez) casado e tendo filhos e a mídia do futuro estará lá, cobrindo tudo dessa mesma forma doentia (espero que não, mas não vejo possibilidade de que algo mude nem em longo prazo).



Penso que essa obsessão que move pessoas comuns (do povo, da plebe) e imprensa (os escribas dos tempos dos faraós) em torno de pessoas que detém poderes (sejam eles quais forem); enquanto a gente sabe que essa obsessão não funciona quando se trata de (por exemplo) noticiar sobre os tantos bebês que todos os dias são abandonados aí pelas ruas do mundo é (mais uma vez) o sintoma de que algo nesse nosso velho mundo vai bem mal.



E eu sei o quanto isso pode soar piegas e meloso e o quanto posso estar misturando alhos com bugalhos, o quanto estou sendo rasa ao ignorar questões históricas que podem, certamente,  explicar de modo mais correto porque o nascimento do filho de monarca inglês vale (muito) mais do que o nascimento de qualquer outro bebê do mundo, mas no que estou pensando é na frase que vi num cartaz durante os protestos e  na qual estava escrito: ‘Não acredito que ainda estamos lutando por isso’.



Pois eu não acredito que ainda hoje, depois de tantas e milhares de revoluções e lutas e mortes de tantos em variados lugares do planeta; ainda hoje somos obrigados a ler notícias que tratam com normalidade o fato de que a foto de um bebê ‘real’ vale mais de 10 milhões de euros por ser esse bebê filho de um príncipe.


Eu acho tudo isso ultrapassado, bizarro e triste.


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Sobre o escrito acima, achei algo aí na rede:




** Procure por  Sara Winter e Femen e você vai entender;


***Nesse link de um jornal português os comentários dos leitores sobre o nascimento do bebê (entre outras coisas) são muito melhores do que o texto do cronista http://expresso.sapo.pt/ha-que-adorar-o-bebe-real-e-o-papa-chico=f822282#ixzz2adj1CCxM .  Foi de lá que retirei esse gracioso título ¹;








Geraes de Minas




           MINAS É NOTÍCIA. ONDE?


                                                                  Paulo R. Santos

Eu também quero morar nas notícias de Minas, andam dizendo. 
E não é pra menos. Pelas matérias pagas pelos governantes tudo parece ir muito bem. O 'choque de gestão' do Governador deixou todo mundo em choque até hoje. 

O que diria Nicolau Maquiavel se estivesse por aqui assistindo a toda essa bandalheira?

Fazer política tornou-se – mais que antes -, a arte de mentir com um sorriso no rosto. Hipocrisia é seu sinônimo. As promessas que jamais serão cumpridas dão cor à pílula que os ingênuos tomam a cada eleição, na esperança de que algo mude. Não muda! Alguém percebeu que o Legislativo brasileiro foi privatizado na primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso?

O lado mais asqueroso da política atual é que tornou-se ainda mas vitalícia e hereditária. As oligarquias municipais, das pequenas às grandes cidades, se reproduzem até o nível federal. O Brasil tem donos, e não são muitos. E o povo? Ora, o povo … Povo é multidão de ninguém disse Nelson Rodrigues. Voltamos ao 'Velho Regime' e a nobreza de terno e gravata está por aí.



Maquiavel: só ele 'explica' o reino fantasioso no qual Minas se encontra... (Crédito: pintura do artista Santi di Tito (1563-1603) Imagem licenciada segundo o Wikimedia Commons)  



Enquanto Rio de Janeiro e São Paulo vivem suas guerras urbanas, parece que Minas está na santa paz de Deus. Não é verdade. Quanto mais apertam o cerco contra o crime organizado nos estados citados, mais eles fogem (ou tiram férias) pra Minas. Nossas pequenas cidades estão presenciando crimes horrendos, daqueles que são praticados por gente que já perdeu completamente o senso. Vida não tem valor.

E as manifestações populares? Deram um susto nos políticos, mas eles – espertamente – atenderam a algumas reivindicações acessórias e vão adiando o essencial. Mas não convém acreditar que o fogo apagou. A presença do Papa, o pão, o circo, o futebol e as disputas religiosas fazem parte do jogo. Por baixo das cinzas brasas ainda queimam!

Minas aparece no noticiário quase como um oásis de estado em estado de graça! Para quem exerce controle com mão de ferro sobre a mídia fica fácil mentir. Noticia-se o que se quer, o que convém, e esconde-se as más notícias. Nossas elites, conhecidas internacionalmente pelo egoísmo e burrice, acham que repressão policial vai resolver o problema. Na verdade, estão apenas alimentado o fogo que ainda queima por baixo das brasas. Novos incêndios vêm por aí!

Entender a política brasileira é difícil? Nem tanto! Basta lembrar da herança colonial ainda tão presente em nosso cotidiano. A Casa-grande, onde mora o latifundiário com sua família, dono do gado humano guardado na Senzala e dos agregados em volta. Pense nos elementos da Senzala que sequer desapareceram de nossa arquitetura.

Ainda existem entrada de serviço e entrada social. O 'quarto da empregada' é um remanescente da senzala. A elite branca grita pela falta de 'domésticas'. Pagar salário é um favor e não um dever na cabeça da maioria dos patrões. Alguém acredita que se destrói uma estrutura cultural de mais de trezentos anos com uma ou outra penada?

Minas tem tudo isso e muito mais. Um estado que preservou muito dessa era colonial, nas boas e más tradições. Os coronéis do sertão ainda estão por aí, e o terno e gravata não lhes esconde o comportamento. A polícia é herdeira do jagunço e do capitão-do-mato. Minas é notícia, mas só no que convém. Passa da hora de contar a verdadeira história desse estado.


(Paulo R. Santos é sociólogo)




Amenidades


E, pra quem nunca viu geada, resolvi postar estas 

'fotitas' tiradas por aqui, bem cedo: